Correção da prova de
concurso para a admissão ao curso de formação de soldados da polícia militar de
Minas Gerais para o ano de 2016.
LÍNGUA PORTUGUESA
“Minha empregada é muito
abusada”
Rosana Pinheiro Machado
Esta coluna começou no
churrasco de domingo, quando, na fila do supermercado, uma mulher disse:
"Minha empregada está muito abusada". Sua interlocutora respondeu:
"Nem me fale, a minha também". Ao longo do almoço, eu e meus amigos
tentávamos explicar o que significava a palavra “abusada” para um estrangeiro.
Como fazê-lo entender que, independentemente da eficiência, a maioria das
empregadas brasileiras seria, em algum momento, considerada “abusada”?
A dificuldade era dimensionar a
extensão do conceito. Começamos pela obviedade do significado da palavra
“abuso”, que remete a algo de superlativo. Abusar é usar alguma coisa além do
limite socialmente esperado. Por exemplo, quando a empregada é abusada por não
subir no elevador de serviço, mas no social.
Prossegui, explicando que se a
empregada come muito, se toma muito refrigerante da geladeira ou come as
bolachas de chocolate, ela é abusada. Se ela pede uma roupa emprestada, é
abusada. Se ela senta à mesa com a família, é abusada.
De todos esses exemplos, ele
concluiu que abusada é aquela que quer mais do que lhe foi dado, que cobiça as
coisas da patroa. A conversa ficou mais complexa porque tivemos de responder
que “não”, que o oposto também era verdadeiro: uma empregada que quer “de
menos” também é abusada. Seguimos explicando que, se a patroa oferece uma roupa
velha, furada e fedida e empregada “tem a au-dá-cia” de não aceitar, ela é
abusada.
Ele concluiu, então, que uma
boa empregada seria, então, aquela que assume “o seu lugar”: não pede muito,
mas aceita de bom grado o que lhe é dado. Colocando o pé para fora dessa faixa
muito estreita de atuação, ela é abusada. (...)
A negação de presentes indignos
por parte das empregadas traz à tona diversas camadas complexas de
significados. A forma desajeitada como as patroas reagem escancara a profunda
patologia social de uma classe média presa ao século XVII – provavelmente, em
uma época em que ela se imagina numa casa-grande, cheia de porcelana inglesa e
de escravos à volta, preferencialmente com uma negra para cozinhar. Ou melhor,
ela se imagina em uma novela da Rede Globo do século XXI, onde a mulher negra
ainda é explorada 24 horas por dia a serviço de suas patroas ricas.
Essas patroas esperam
empregadas sem agência, sem protagonismo, sem voz, sem vontade e sem opinião.
(...). Elas esperam seres eternamente gratos por receberem restos. Nessa lógica
em que, já diria Marcel Mauss, dar é poder, uma empregada que pede mais
dinheiro para lavar a privada suja ou exige seus direitos garantidos na
Constituição, só pode ser abusada. (...)
Por tudo isso, eu penso que não
aceitar qualquer presente é um marco muito importante na passagem de uma
relação servil para a profissional (...). A negação revela a emergência de uma
subjetividade repleta de vontades que se impõem na esfera do trabalho. É da
negação que surge uma nova era no Brasil, pois ela quebra o círculo da dádiva e
rompe com o poder do doador, estabelecendo uma condição de igualdade baseada na
troca de serviços – e não de favores.
As transformações recentes da sociedade
brasileira indicam um leve rompimento (...) de uma relação tão pessoal quanto
doentia entre patroas e empregadas. Indica o fim do ser humano como posse de
outro ser humano. E isso, é claro, causa desespero, lamentação, recalque e
conflitos.
Ainda tem muito a ser feito e
conquistado. Muito mesmo. Espero que chegue o dia em que eu não precise
explicar o sentido da palavra "abusada". Neste dia, perder-se-á
também alguma flexibilidade do modelo de empregadas dentro de casa. Será
preciso se acostumar a ouvir “não, obrigada” e aprender a curtir genuinamente
as fotos postadas daquela viagem. Neste dia, o serviço da limpeza será mais
custoso, mas não há saída: esse é o preço de nosso desenvolvimento e de nossa
liberdade enquanto nação.
Disponível em: http://www.cartacapital.com.br/sociedade/201cminha-empregada-e-muito-abusada201d-7617.html
- Acessado em 14/05/2014 - Texto adaptado.
LÍNGUA PORTUGUESA -
INTERPRETAÇÃO DE TEXTO
28ª QUESTÃO - “A dificuldade era dimensionar a extensão do conceito.
Começamos pela obviedade do significado da palavra „abuso‟, que remete a algo
de superlativo”. De acordo com o trecho, marque a alternativa que corresponde à
palavra superlativo.
A.
( ) Grande.
B.
( ) Extremo.
C.
( ) Hiperbólico.
D. ( ) Maior.
29ª QUESTÃO - “Espero que chegue o dia em que eu não precise
explicar o sentido da palavra „abusada‟. Neste dia, perder-se-á também alguma
flexibilidade do modelo de empregadas dentro de casa. Será preciso se acostumar
a ouvir „não, obrigada‟ e aprender a curtir genuinamente as fotos postadas
daquela viagem. Neste dia, o serviço da limpeza será mais custoso (...)”. De
acordo com o trecho, podemos afirmar que:
A.
( ) O serviço de limpeza será devidamente valorizado.
B.
( ) A tendência é que o serviço de limpeza seja menos custoso.
C.
( ) Haverá maior flexibilidade do modelo de atuação das empregadas.
D. ( ) As empregadas não mais
serão chamadas de abusadas.
30ª QUESTÃO - Após a leitura do texto, marque a alternativa CORRETA.
A.
( ) A recusa dos presentes indignos pelas empregadas leva as patroas a
refletir.
B.
( ) As patroas esperam empregadas protagonistas.
C.
( ) A empregada abusada cobiça as coisas da patroa.
D. ( ) As patroas querem que as
empregadas sejam gratas.
31ª QUESTÃO - “Esta coluna começou no churrasco de domingo, quando,
na fila do supermercado, uma mulher disse: „Minha empregada está muito
abusada‟. Sua interlocutora respondeu: „Nem me fale, a minha também‟. Ao
longo do almoço, eu e meus amigos tentávamos explicar o que significava a
palavra „abusada‟ para um estrangeiro”. Marque a alternativa que corresponde ao
recurso linguístico utilizado pela autora no trecho em destaque.
A.
( ) Discurso direto.
B.
( ) Discurso indireto livre.
C.
( ) Discurso direto composto.
D. ( ) Discurso indireto.
32ª QUESTÃO - “A negação revela a emergência de uma subjetividade
repleta de vontades que se impõem na esfera do trabalho”. De acordo com o
trecho, é CORRETO afirmar que:
A.
( ) A negação e a subjetividade devem sempre se impor às relações trabalhistas.
B.
( ) A negação é prejudicial às relações trabalhistas.
C.
( ) A subjetividade é prejudicial às relações trabalhistas.
D. ( ) A subjetividade e a
vontade são essenciais nas relações trabalhistas.
33ª QUESTÃO - Leia o trecho a seguir e marque a alternativa CORRETA:
“Nessa lógica em que, já diria Marcel Mauss, dar é poder (...)".
A.
( ) O poder está na negação da empregada em receber doações.
B.
( ) O poder está na dádiva da doação.
C.
( ) A doação gera um distanciamento do poder.
D. ( ) O poder está na gratidão
em receber restos.
LÍNGUA PORTUGUESA -
GRAMÁTICA
34ª QUESTÃO - Quanto ao emprego da vírgula, marque a alternativa
CORRETA.
A.
( ) A maior riqueza do país, eram os poços de petróleo.
B. ( ) E quando lhe pediram a
opinião, disse que o assunto, não era com ele.
C.
( ) O empregado faz o serviço, e o patrão ganha o reconhecimento.
D. ( ) Quando nervoso não fale,
nem grite, apenas busque manter a calma.
35ª QUESTÃO - Assinale a alternativa CORRETA quanto ao uso da crase:
A.
( ) A palestra será proferida a homem ou à mulher?
B.
( ) Chegavam à casa quando chovia torrencialmente.
C.
( ) A prova foi escrita à lápis.
D. ( ) A mulher fica elegante
com calçados à Luís XV.
36ª QUESTÃO - Quanto ao emprego dos verbos, marque a alternativa em
que HÁ verbo abundante.
A.
( ) A pipa ficou presa à rede elétrica.
B.
( ) Maria feriu-se ao sair apressada do trabalho.
C.
( ) O paciente debateu-se com o barulho da sirene.
D. ( ) Na festa a que fui, só
havia meninas.
37ª QUESTÃO - Na frase "Prefiro o doce a salgado, da mesma
forma que prefiro mais o amanhecer ao entardecer”, é CORRETO dizer, quanto à
regência verbal, que o verbo PREFERIR é:
A.
( ) Somente intransitivo.
B.
( ) Transitivo direto e indireto.
C.
( ) Transitivo direto e intransitivo.
D. ( ) Somente transitivo.
38ª QUESTÃO - Marque a alternativa em que NÃO ocorre o infinitivo
pessoal flexionado:
A.
( ) É preciso aprendermos a nos esquecer de nós mesmos.
B.
( ) Ficamos os dois a olhar o mar.
C.
( ) Ele caminhará para que ela o acompanhe.
D. ( ) Passaram no vestibular
para o mesmo curso.
39ª QUESTÃO - Marque a alternativa em que há uma oração reduzida de
particípio.
A.
( ) Pense bem, antes de responder.
B.
( ) Nada o impede de ir.
C.
( ) Quando chegar aqui, me ajude.
D. ( ) Este é o gabarito
divulgado pelo professor.
40ª QUESTÃO - Quanto à Concordância Verbal, marque a alternativa
CORRETA.
A.
( ) Ninguém ouviu a gritaria da menina, a não serem os vizinhos.
B.
( ) Quanto menas palavras você disser, menor a chance de errar.
C.
( ) Havia dois anos que eu me preparava para este concurso.
D. ( ) Haja visto os livros
escolhidos hoje, adiaremos os testes.
Correção Comentada
28. letra B.
Extremo e Superlativo possuem o mesmo significado = grau máximo
29. letra D,
letra A, está errada, pois pede o que se pode afirmar com relação ao trecho como um todo e não só no último período.
letra A, está errada, pois pede o que se pode afirmar com relação ao trecho como um todo e não só no último período.
A letra B
está totalmente contrária ao enunciado
A letra C
afirma que a flexibilidade estará no modelo de atuação das empregadas como se
elas fossem fazer serviços diferentes daqueles que hoje elas fazem. Fato que
não se afirma no texto, uma vez que o enunciado deixa expresso que a
flexibilidade estará no modelo de empregada, menos submissa e mais
independente.
30. letra D
A letra A.
As patroas não refletem, mas sim reclamam e criticam as empregadas, chamando-as
de abusadas.
A letra B.
As patroas não esperam empregadas protagonistas (importantes, centro das
atenções devido à falta de trabalhadores qualificados), ao contrário, querem
funcionárias dependentes e submissas.
A letra C.
Está expresso no texto no quarto parágrafo exatamente o oposto dessa assertiva.
31. letra A.
Pois o trecho em destaque é a fala fiel de uma conversa dentro do texto.
32. letra D.
Pois o trecho revela que a subjetividade e a vontade precisam estar presentes
nas relações trabalhistas.
A letra A
tem a palavra “sempre” que abrange muito a alternativa deixando-a errada.
33. letra B.
Isso se explica pela expressão “dar é poder”.
34. letra
C, pois a conjunção “e” não tem valor aditivo, mas sim adversativo o que
permite o uso da vírgula antes dela.
A letra A
está errada pois a vírgula separa o sujeito de seu predicado.
A letra B
está errada pois a vírgula separa o complemento do verbo “disse” no meio.
A letra D
deveria haver vírgula depois de nervoso, pois é adjunto adverbial antecipado;
não poderia haver essa vírgula antes de nem pois nesse caso é uma conjunção que
exprime adição.
35. Letra D
Pois subentende-se a expressão à moda de Luís XV
A letra A. A
expressão “a mulher” possui o mesmo sentido que “para mulher” não
cabendo o artigo só a preposição.
A letra B.
Casa determinada crase liberada. Não afirmou de quem é a casa, portanto não há
crase.
A letra C.
Lápis é masculino, não pode haver crase antes dessa palavra.
36. letra A,
pois aceita como particípio a forma presa ou prendida.
Verbos abundantes são aqueles que
apresentam mais de uma forma para determinada flexão. Essas formas, geralmente,
ocorrem no particípio, em que, além das formas regulares (em –ado
ou –ido), apresentam as formas irregulares, também
conhecidas por breves ou curtas.
37. letra B,
pois quem prefere, prefere isso (objeto direto) a aquilo (objeto
indireto)
38. letra B.
É a única alternativa que possui infinitivo não-flexionado (olhar)
Quando se
diz que um verbo está no infinitivo pessoal, isso significa que ele atribui um
agente ao processo verbal, flexionando-se.
39. letra D.
É a única alternativa que possui verbo no particípio.
40. letra C
letra A: … a
não ser o vizinhos
letra B:
Quanto menos… (a expressão menos é invariável, não muda)
letra D:
Haja vista é uma expressão invariável.